Uso, Abuso e Dependência: Como Diferenciar?

Uso, Abuso e Dependência

O Valor de Reconhecer os Estágios

A distinção entre uso, abuso e dependência em substâncias psicoativas é fundamental para orientar decisões em saúde pública, clínica e nas redes de apoio. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 2,6 milhões de mortes anuais são atribuídas ao álcool, e cerca de 600 mil a outras drogas, totalizando mais de 3 milhões de mortes por ano devido ao uso nocivo dessas substâncias [OMS].

No Brasil, o consumo de álcool gera um custo estimado em R$ 18 bilhões por ano e resulta em aproximadamente 12 mortes por hora, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) [Fiocruz].

Uso: Consumo sem Prejuízos

Definição: Quando ainda existe escolha.

Uso refere-se ao consumo voluntário, moderado e ocasional — sem compulsão, sem prejuízos à saúde ou às responsabilidades diárias. A American Psychiatric Association classifica esse padrão como de “baixo risco” quando não afeta comportamento ou bem-estar.

Exemplos de uso controlado:

  • Uma taça de vinho no jantar familiar;
  • Um analgésico tomado ocasionalmente para tratar dores agudas;
  • Um cigarro social em ocasiões esporádicas (em países onde permitido).

Abuso: Quando Surgem Danos Reais

Critérios do transtorno leve a moderado

O abuso acontece quando o consumo passa a gerar consequências, mesmo que de forma intermitente. Faltar ao trabalho, dirigir embriagado, envolver-se em riscos físicos e afetar relacionamentos são sinais claros. No DSM‑5, esse padrão pode ser classificado como "Transtorno por Uso de Substâncias" de grau leve a moderado.

O cenário no Brasil: Segundo o Vigitel 2023, 5,9% dos brasileiros relataram dirigir após beber [Ministério da Saúde].

Dependência: Quando o Controle se Perde

Marcadores da dependência:

  • Tolerância: necessidade de doses maiores para o mesmo efeito;
  • Abstinência: sintomas físicos e mentais ao tentar interromper o consumo;
  • Compulsão e uso mesmo diante de danos graves.

A dependência se torna uma condição crônica e recidivante — e exige tratamento especializado.

Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas 2023 da ONU, cerca de 36 milhões de pessoas enfrentam transtornos graves por uso de drogas.

A Transição Entre os Estágios

Como o uso evolui para o abuso: mudanças no padrão, uso emocional, aumento de frequência e quantidade.

Do abuso à dependência: surgem sintomas físicos e sociais, isolamento, priorização da substância sobre tudo.

Recuperação Apoiadora: O Papel de NA e AA

Narcóticos Anônimos (NA):

Segundo o site oficial NA Brasil:

“NA oferece apenas uma promessa: liberdade do uso ativo de drogas, por um dia de cada vez.”

E mais:

“É importante você saber que vai ouvir falar em Deus nas reuniões de NA. Nós nos referimos a um Poder maior do que nós, que torna possível o que parece impossível.”

Alcoólicos Anônimos (AA):

De acordo com a JUNAAB (AA Brasil), a irmandade possui cerca de 5.700 grupos e 120 mil membros no país.

“Só por hoje”
“Nosso bem-estar comum deve estar em primeiro lugar; a recuperação individual depende da unidade de AA.”

Políticas e Evidências que Funcionam

A OPAS/OMS recomenda o plano SAFER, com ênfase em:

  • Restrição da disponibilidade;
  • Fiscalização da condução sob efeito de álcool;
  • Intervenções breves em serviços de saúde;
  • Controle da publicidade;
  • Tributação das bebidas alcoólicas.

O SUS registrou mais de 400 mil atendimentos por uso de álcool e outras drogas em 2021.

Entre a Ciência e a Compaixão

Diferenciar uso, abuso e dependência permite oferecer cuidado adequado, sem estigmas. Enquanto o uso moderado pode não ser prejudicial, o abuso exige atenção e a dependência demanda tratamento clínico e social.

Com apoio de grupos como NA e AA, aliados à ciência e às políticas públicas eficazes, a recuperação torna-se um caminho possível e real.

Referências

  1. OMS – Relatório Global sobre Álcool e Saúde (2023)
  2. Fiocruz – Estudo sobre o custo do álcool no Brasil
  3. Ministério da Saúde – Vigitel 2023
  4. UNODC – Relatório Mundial sobre Drogas (2023)
  5. NA Brasil – Narcóticos Anônimos
  6. AA Brasil – Alcoólicos Anônimos
  7. OPAS – Plano SAFER
  8. Ministério da Saúde – SUS e álcool/drogas

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