Chacrona: O Perigo Oculto na Recuperação

Chacrona

Chacrona e Dependência Química: Por Que Essa Planta Pode Ser Perigosa Fora dos Rituais Tradicionais?

Você já ouviu falar da chacrona? É uma plantinha que cresce na floresta amazônica, usada há muito tempo por povos indígenas em cerimônias bem especiais. Eles acreditam que, quando misturada com outro cipó chamado Banisteriopsis caapi, essa planta ajuda a gente a se conectar com o que é sagrado, com o mundo espiritual. Essa mistura se chama ayahuasca.

Mas, sabe, hoje essa história é diferente.

A ayahuasca não fica só na floresta, não. Ela já saiu do meio dos indígenas e foi parar em cidades, retiros espirituais, clínicas, festas... até vendendo na internet. E aí é que o bicho pega. O que era uma coisa sagrada, cheia de respeito e cuidado, virou às vezes uma “viagem” que as pessoas fazem só pra sentir algo diferente.

E pra quem está tentando se livrar de um vício, tipo drogas ou álcool, isso pode ser muito perigoso. É disso que eu quero falar com você.

O que tem nessa planta que mexe tanto com a gente?

A chacrona tem uma substância chamada DMT (dimetiltriptamina). É um nome difícil, né? Mas o que importa é que essa molécula é muito forte e mexe com o nosso cérebro de um jeito especial. Só que se você engolir essa planta sozinha, quase não vai sentir nada, porque o corpo quebra a substância rapidinho.

Aí entra o cipó Banisteriopsis caapi, que segura essa substância no corpo, deixa ela agir por mais tempo. Quando você toma essa mistura — a ayahuasca — começam as visões, as sensações fortes, a mente viajando. Tem gente que chora, tem gente que ri, tem gente que sente medo, tem gente que se sente abraçada por um amor enorme.

Não é um sonho, mas é parecido — só que muito mais intenso, que pode durar horas, e que às vezes muda o jeito que você se sente por dias.

Pode ajudar? Pode. Mas também pode machucar.

Nos últimos anos, cientistas começaram a estudar a ayahuasca pra ver se ela pode ajudar a tratar problemas como depressão ou traumas. E, olha, tem estudos que mostram que, sim, ela pode ajudar bastante. Mas, claro, isso só acontece quando a pessoa está em um lugar seguro, com médicos, psicólogos, e tudo bem controlado.

Mas não se engane: isso não quer dizer que todo mundo pode tomar ayahuasca do jeito que quiser, em casa, numa festa, ou sozinho.

Porque fora de um lugar seguro, essa “viagem” pode virar um pesadelo. Pode dar medo, confusão, ansiedade, e até deixar a cabeça da pessoa muito bagunçada.

Por que é perigoso para quem já teve vício?

Quem luta contra o vício sabe que não é fácil. Parar de usar algo que você sentia prazer ou alívio é uma luta diária. O corpo sente falta, a mente fica agitada, e às vezes a vontade de voltar é muito forte.

Agora pensa: essa pessoa, querendo se curar, resolve tomar ayahuasca. No começo, ela sente paz, como se tudo estivesse melhorando. Mas aí, começa a querer repetir aquilo, porque quer sentir de novo essa paz, esse abraço, essa luz.

Só que essa vontade pode virar uma nova armadilha. Porque aí a pessoa troca uma dependência por outra — não de um remédio ou droga comum, mas da sensação que a ayahuasca traz.

O lado que quase ninguém fala

Muitos lugares que vendem ou oferecem experiências com ayahuasca não têm médicos, psicólogos, nem fazem perguntas sobre o passado da pessoa. Eles não sabem se a pessoa já teve depressão, crise de pânico, ou problema com drogas. Às vezes, nem sabem direito o que estão vendendo.

E aí vendem pela internet, entregam na casa da pessoa, e dizem que é “natural” e que “não tem perigo”.

Só que tem.

O DMT, para quem tem histórico de vício ou problemas na cabeça, pode causar crises, medos fortes, ou fazer a pessoa voltar a usar drogas pra “se acalmar”.

Um exemplo que aconteceu de verdade

Em 2017, uma revista contou a história de três homens que tomaram ayahuasca sem orientação. Um deles estava tentando largar a cocaína e achou que a ayahuasca ia ajudar. No começo, ele se sentiu bem, mas semanas depois queria tomar toda semana, porque gostava da sensação.

Quando não conseguia, ficava triste e ansioso. E acabou voltando a usar cocaína.

A espiritualidade é forte, mas tem que ter cuidado

A espiritualidade é uma coisa linda e pode ajudar muito quem está sofrendo. Rezar, meditar, se conectar com algo maior pode dar força pra continuar.

Mas, se a pessoa começa a buscar só a sensação da “viagem” pra fugir da dor, da solidão, ou do medo, ela não está se curando. Está se enganando.

Como está a venda da chacrona hoje?

No Brasil, a venda da chacrona e da ayahuasca está crescendo muito. Mesmo com leis que protegem o uso religioso, isso não quer dizer que qualquer um pode vender pela internet ou usar em festa.

O DMT é controlado em vários países, e no Brasil o uso fora do ritual religioso pode ser perigoso e até ilegal.

Em 2022, a ANVISA avisou sobre o aumento de vendas da planta no Rio de Janeiro, principalmente pela internet. Muitas pessoas compram achando que é “natural e seguro”, mas não sabem dos perigos.

O que os especialistas dizem?

  • Quem está em tratamento não deve usar ayahuasca, a não ser que seja parte de um estudo clínico com supervisão médica.
  • Mesmo quem nunca teve vício deve pensar muito antes de usar qualquer coisa que mexa com a mente.
  • Toda experiência espiritual precisa ter cuidado, respeito e segurança — não pode ser uma fuga.

Perguntas que muita gente faz

1. Posso tomar ayahuasca no Brasil?
Sim, mas só nas religiões que têm permissão. Fora disso, é perigoso e pode dar problema.

2. A ayahuasca vicia?
Fisicamente, não. Mas pode causar dependência da sensação, principalmente em quem já teve vício.

3. Pode fazer mal?
Sim. Pode dar vômito, medo, confusão, crises de pânico e até surtos mentais.

4. Serve como remédio?
Só em estudos clínicos com médico e psicólogo. Não é remédio pra tomar em casa.

5. Quem já teve vício pode tomar?
Não é recomendado, porque pode atrapalhar a recuperação.

Para terminar: entre o sagrado e o cuidado

A chacrona merece respeito. É parte da cultura de povos que sabem muito bem o que fazem.

Mas quando sai desse lugar, vira risco — principalmente para quem está tentando se curar de um vício.

Buscar cura é lindo. Buscar com cuidado é ainda melhor. Porque curar é aprender a viver um dia de cada vez, com verdade.

Fontes:

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